A criança, enquanto ser único, depende física e emocionalmente de um adulto, apresentando etapas decisivas de desenvolvimento psicomotor, assim como particularidades anatómicas, fisiológicas e comportamentais. Desta forma, as patologias sistémicas e orais merecem uma abordagem distinta da de um adulto. Neste sentido, surge a odontopediatria, a área da Medicina Dentária que se dedica à saúde oral de bebés, crianças e adolescentes (0-17 anos), onde se pressupõe a intervenção precoce e terapêutica, através da realização de tratamentos preventivos e curativos, para que a criança mantenha uma boca sã, estética e funcional, até à idade adulta.

É de extrema importância que os dentes de leite se mantenham tratados e livres de focos de infeção tal como os dentes definitivos, pois alguns mantêm-se em boca até aos 12 anos e são fundamentais para o normal desenvolvimento da mastigação, deglutição, fonética, estética e respiração, assim como na manutenção do espaço para os definitivos que depois o ocuparão.

Os objetivos da consulta de odontopediatria são vários:

  • prevenção: realizar o exame oral e diagnóstico precoces e fornecer orientações aos pais;
  • instrução e motivação para correta alimentação e higiene oral;
  • realização de aplicações tópicas de flúor: permite a remineralização do esmalte, ajudando a prevenir o aparecimento de cárie ou a mantê-la inativa;
  • realização de tratamentos preventivos: visam evitar o aparecimento de lesões dentárias e de desenvolvimento orofacial (ex.: selantes de fissura);
  • realização de tratamentos curativos: visam tratar lesões dentárias já existentes (ex.: tratamento de cárie em dentição decídua e mista, exodontia de dentes de leite);
  • realizar tratamentos intercetivos: visam reduzir a severidade ou mesmo eliminar hábitos nocivos, que causam problemas na saúde oral e desenvolvimento facial, através do trabalho em conjunto com a terapia da fala e ortodontia (ex.: extrações dentárias programadas, eliminar contactos prematuros);

 

Consulta no Bebé

É frequente os pais perguntarem qual é a idade em que se deve ter a primeira consulta de Medicina Dentária. A resposta é a partir do momento em que surge o primeiro dente na cavidade oral, por volta dos 6 meses de vida. Sendo assim, o bebé já pode ir ao dentista, de forma a que se possa fazer aconselhamento sobre alimentação, higiene oral e flúor, dar indicações acerca dos efeitos nocivos que a chupeta e o biberão poderão trazer para os seus dentinhos e crescimento orofacial, assim como informar qual o tipo de pasta, escova e técnica de escovagem adequados e sensibilizar para a deteção de “lesões de mancha branca”. É uma consulta essencialmente preventiva, cujo principal objetivo é observar e alertar os pais para atitudes preventivas e onde os mais pequenos podem ter um contacto precoce com os instrumentos e o ambiente do consultório de Medicina Dentária.

Convém referir, ainda, que a gengiva do bebé também deve ser higienizada pelos pais, através do auxílio de uma compressa humedecida com soro ou água. A pasta de dentes, tal como o próprio nome indica, só deverá ser utilizada a partir do momento em que aparece o 1º dente.

 

Consulta na criança

A dentição de leite ou decídua é composta por 20 dentes e fica completa por volta dos 2 anos e meio de idade e é importante que a criança comece a ter hábitos de higiene oral e consultas regulares no dentista, pois, se há dentes na boca, significa que pode haver formação de cárie nos mesmos.

Se a primeira consulta se der quando há dor ou cárie, conquistar a confiança da criança é mais complicado, daí a importância de que a primeira consulta deve ser encarada como uma experiência positiva com os instrumentos dentários, como rotina e prevenção, ao invés da ida pela preocupação do facto de a criança andar com queixas de dor nos dentes ou porque apareceu uma “borbulhinha” no dente que tem um buraco preto. Neste caso, a primeira consulta ao invés de ser uma consulta preventiva, passa a ser uma experiência um pouco mais temida e invasiva. É também muito importante que a criança, em casa, mantenha bons e regulares hábitos de higiene oral e que o faça em conjunto com os pais, pois estes são encarados por elas como “super-heróis”, o seu principal exemplo, e gostam de fazer tudo o que os seus pais fazem. Também é muito importante que a criança não traga uma ideia pré-concebida acerca do dentista, por conversas que escutou, mas sim deixá-la ter a sua própria experiência, pois o médico dentista saberá qual a melhor forma de o abordar, fazendo tudo parecer mais simples.

 

Consulta no adolescente

Entre os 5-6 anos aparecem os primeiros molares definitivos, atrás dos molares de leite, sem queda de nenhum dente permanente (pode passar despercebido), iniciando a fase de dentição mista, isto é, há presença simultânea de dentes de leite e de dentes definitivos na cavidade oral.  Por volta dos 14 anos, a dentição definitiva fica completa, ou seja, todos os dentes de leite foram expulsos e só existem dentes definitivos (à exceção dos dentes do siso), que devem ser mantidos saudáveis até ao final da vida.

É importante fazer consultas regulares de controlo, profilaxia e aplicações tópicas de flúor, tratamentos curativos na fase mais precoce possível, avaliar a necessidade de auxiliar a expulsão dos dentes de leite (pois nem sempre conseguem sair por eles próprios), de realizar os selantes de fissura e, também, de avaliar o crescimento facial e a orientação dentária, de forma a observar se haverá necessidade de utilizar aparelho ortodôntico.

 

É importante relembrar que um dente de leite com cárie é um foco infecioso e pode afetar a formação dos dentes definitivos e a saúde em geral.

Se a criança começar a ser seguida numa idade muito precoce, consegue manter estes hábitos durante toda a sua vida, pois adquire-os como seus e tudo se tornará mais fácil!